quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Sobre Ser Justo ou Permitir que a Injustiça Aconteça


 

Você percebe que algo não está certo quando você olha para os lados e vê pessoas diferente de você. De repente, os dois calcanhares dos seus pais, da sua irmã e dos seus coleguinhas tocam o chão, mas o seu, um deles insiste em manter-se suspenso. Apesar disso não ser um impedimento para brincar, rir, demonstrar carinho e correr, mesmo que as vezes isso acarrete em cair, o entendimento que você é diferente cai em você. Sua mãe corre com você para médicos e seu pai passa o dia inteiro trabalhando, chegando em casa muito cansado e com o uniforme sujo de graxa em uma sacola do mercado, o qual vai ser lavado depois pela sua mãe e só vai sair se ela usar detergente.

Depois de muitos médicos, idas e vindas, um sofrimento e um cansaço que te afeta, mas afeta o dobro seus pais, você vai para a mesa de cirurgia com apenas 5 anos de idade. A lágrima no rosto da sua mãe ao te deixar no centro cirúrgico não resite e cai com força.

Depois de uma segunda negligência médica, primeiro de uma anestesista que fez com que você tivesse uma hemiparesia por injetar líquido demais na espinha da sua mãe, agora a pessoa responsável por colocar o gesso na sua perna, o faz de uma forma que conforme o secar do gesso, ele endurece e começa a entrar na sua perna e isso te arranca gritos de uma dor que não pode ser explicada, apenas sentida e gritada ao ponto de não ser possível que ninguém grite.

Após um novo gesso ser colocado de forma correta, um caminho de cerca de 10 anos de fisioterapia te espera. Dores, privação de brincar, privação de uma parte da sua infância, preconceito, comentários maldosos cercam sua infância e sua adolescência. Ainda assim, você se dedica a estudar. Você se esforça o máximo que pode. Para quem suportou dores tão fortes aos 5 anos, o sono e o cansaço não são problemas. Com isso, você se torna o primeiro na sua sala por muitos anos consecutivos, sendo sempre usado como exemplo, mas ainda assim, excluído de algumas atividades porque "você não conseguiria, é melhor só assistir mesmo. Sente ali e espere".

O estudo era a única coisa que não tinham restrições. Você estudou muito! Fez inglês, fez curso de gestão empresarial aos sábados que precisava acordar as 05h00 da manhã. Você também continuou se esforçando para no boletim o 9 ser a nota mais baixa daquela sala de escola pública.

Você foi pra faculdade. Se sentiu pequeno diante tantas pessoas estudadas e com dinheiro. E ainda ali, as pessoas continuaram perguntando se você tinha machucado a perna ou se você era gay e por isso andava "meio que rebolando".

Você pensou em desistir no segundo semestre, mas ao invés disso, começou a ir para a biblioteca depois do almoço carregando no trajeto de 2 horas de percurso um lanche ou um fruta porque das 14h00 até às 22h30 ia dar fome, mas você precisava estudar e cobrir todo o gap educacional que você teve em um ensino defasado.

O cansaço era grande, mas você se formou, mesmo passando a noite em claro na véspera da apresentação do TCC, já tendo feito estágio em uma livraria famosa de São Paulo, enfrentando todo o seu medo da entrevista e da terrível dinâmica de grupo e isso, sem contar uma gestora que disse claramente que talvez aquele lugar não era para você.

Até no final da faculdade você já tinha saído do estágio extremamente prejudicial para a sua saúde mental. Foi corajoso da sua parte! E então, entrou em uma empresa privada, onde foi sua salvação. Você passou por muitos gestores que oscilavam entre uma gestão dos sonhos seguido para uma gestão de pesadelos. Você lembra quando você levantou da mesa com a cabeça erguida a passos firmes e seguiu como se fosse alguém extremamente seguro, mas no final era somente uma casca para chegar na escada de emergência e poder chorar tentando respirar fundo? Nesse momento você foi forte.

A vida te bateu forte e você permaneceu. Você estudou, trabalhou, apanhou, mas não deixou seus livros, seu raciocínio, sua coerência.

Você fez por merecer cada aumento de salário, promoção e processo seletivo que você passou. Você mereceu cada feedback positivo, elogio, reconhecimento. Ninguém fez por você. Você fez isso!

Hoje, não se sinta culpado por se presentear, por se mimar. Não se sinta mal por poder proporcionar momentos de conforto a você.

Saiba que você não é obrigado a realizar sonhos de pessoas que não fazem nenhum sentido para você. Não deixe de ser sua própria prioridade. Cuide-se. Ame-se. Seja sua prioridade. Isso não é egoísmo. Isso é merecimento.

E se em algum momento a vida sorriu para você e por isso teve uma lasca do que talvez possa ser chamado de privilégio, não se sinta culpado. Você também não tem culpa das oportunidades que se abriram pra você ou da sorte que você teve. A sorte também também pode ser desperdiçada e você não fez isso, então o mérito continua sendo seu.

Esse texto é um lembrete! Não é sobre massagear o ego. É sobre reconhecer sua própria jornada.


Ao som de Aurora

Warrior

25 de janeiro de 2023

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Quando nos Deparamos com a Solidão



Essa é a quinta vez que eu começo a escrever esse texto. Talvez isso mostre um pouco da angústia e como doi falar sobre isso. Têm feridas que doem tanto que, por mais que saibamos que é necessário tirar as ataduras para cicatrizar, a dor ou o medo da dor que ainda nem sentimos nos impede de fazer isso.

Vivemos em um mundo tão conectado... hoje, podemos falar com pessoas onde quer que elas estejam. Mas as vezes me pergunto o quanto elas estão vivas para escutar e se elas querem ouvir o que o outro tem a dizer. Uma escuta sem julgamentos, sem inferências, sem conselhos, sem opiniões, sem nada. Só estar ali para te ouvir. Estar ali porque ela se importa e quer saber o que acontece com você e, ao mesmo, porque estar ali, no fundo ela sabe que é o que você precisa.

Talvez por sempre ser educado para ouvir, eu emprestei meus ouvidos e minha atenção à tanta gente! Eu ouvi problemas, dúvidas, angústias, ouvi histórias sobre pessoas que nunca conheci e nunca conhecerei. Ouvi nomes de pessoas que nunca vi, lugares que não conheci, sentimentos que não sente e vi lágrimas que não chorei. No final, eu criei a esperança de que quando fosse a minha vez, eu encontraria essas pessoas para que a reciprocidade acontecesse... e ela não veio.

Cada um tem suas batalhas. Cada um tem seus momentos. Cada um tem seus dilemas. Cada um tem milhares de coisas para fazer. Cada um, cada um, cada... E o coletivo morreu! O olhar para o outro morreu e foi enterrado em uma gaveta profunda o suficiente para não lembrar de como é necessário ter o outro por perto. E enquanto isso, o tempo passa. Talvez seja por isso que vemos cada vez mais mais pessoas indignadas em velórios e enterros: a pessoa se foi e ela não viu. Ou será que o remorso, a dor e a indignação não seja porque ela se foi, mas porque você não terá mais para quem correr. Alguns comportamentos, nem a morte muda. O egoísmo é assim...

Quantas vezes a nossa escuta se transforma em desabafo? Aquele momento de atenção que nós daríamos para o outro, transforma-se em um espelho e mais uma vez continuamos a falar de nós mesmos, como se não fosse possível parar para entender que o outro existe, que o outro precisa, que o outro grita...

As vezes parece que é muito pisar no freio da vida para escutar alguém porque aquilo ali é "perda de tempo". E talvez nesse momento seja válido parar e se questionar: o que é ganhar o tempo? Qual é a nossa prioridade de vida? O que faz a vida valer a pena? Não é viver? Como é a forma que temos vivido? Correndo atrás do vento e passando tão rapidamente que no lugar dos rostos de pessoas vimos apenas um borrão. A velocidade não deixou que olhássemos com calma para aquela alma que habitava ali e que gritava por ajuda ou para aquela lágrima que buscava um ombro para se aconchegar.

"Na ânsia de ganharmos tempo, temos perdido o próprio tempo". Com essa frase, apenas concluo que no final, ninguém sabe muito bem o que se quer e qual o objetivo do se faz. Perdemos os o que estamos tentando conseguir. O paradoxo se faz.

A humanidade tem salvação? Não sei... Parece que o altruísmo, no mais puro do seu significado, ficou preso em um passado distante. Com bilhares de pessoas no mundo, parece que os humanos também conseguiram construirem bilhares de caminhos diferentes para não cruzarem com o outro e se "indispor" em ter de olhar para o lado. Temos salvação? Talvez a salvação esteja nessa jornada instrínseca de descoberta do próprio ser e sucumbir com uma pá e enxada na mão e construir mais um caminho individual no meio dos bilhares.

Estamos lotados e vazios. E agora, é a uma pergunta real: nós estamos ON ou OFF? Estamos ON para o que? Estamos OFF para o que?


      Ao som de:
Tempo Perdido - Renato Russo (Versão de Renato Enoch) 


Ps.: na minha vida, o tempo todo me cobrei para ser perfeito e entendo o peso que isso dá. Por isso, hoje me dou o direito de não revisar esse texto e aceitar todo e qualquer tipo de erro que ele tiver. Os erros e a imperfeição fazem parte de mim e da minha construção.

sábado, 9 de janeiro de 2021

Seu Próprio Sol


Quantas vezes entregamos o ouro nas mãos de outras pessoas? Pessoas certas? Pessoas erradas? Pessoas incertas? Todas são erradas. O ouro é a nossa felicidade e essa deve ser de única e exclusiva responsabilidade nossa.

Crescemos assistindo séries, novelas, filmes, desenhos em que a felicidade sempre precisa ser compartilhada e que é dependente ou co-dependente de alguém ou alguma coisa. A felicidade é um substantivo singular. Ela não é plural. Ela pode ser somada, ela pode ser compartilhada, ela pode ser dividida, mas ela nunca pode ser entregue a alguém como forma de dependência.

Infelizmente, com o tempo, vamos aprendendo a colocar condicionais e a partícula "se" em todos os aspectos da nossa vida, inclusive na nossa felicidade: serei feliz "SE" algo acontecer; "SE" eu comprar algo; "SE" eu achar alguém; "SE" eu conquistar isso; "SE" eu viajar para tal lugar; "SE"... "SE"... "SE"...
Essas condicionais além de ter o poder de tirar a nossa determinação e de nos enfraquecer, nos impede de correr atrás agora. Quando falamos que felicidade não é ponto de chegada e sim o trajeto, é sobre isso!

Ninguém pode ter o poder de nos derrubar, de nos enfraquecer, de nos impedir de correr atras do que queremos. Por que damos esse poder que é só nosso? Qual processo mental, psicológico que passamos ou deixamos de passar que faz com que nos submetamos a isso?

É tempo de respirar fundo, colocar fogo no olhar, cerrar os lábios, mirar o horizonte e começar a caminhar! O tempo é agora!
Que a coragem, a paixão, a motivação, e a vontade deem as mão dentro de nós e sejam o nosso combustível nessa jornada que se chama: V-I-D-A!

Paulo Ferle


Ao som de:
Vamos Fugir - Skank
Enquanto Houver Sol - Titãs

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Uma Pausa para o Sentimento





O sentimento é complitude. Duas pessoas inteiras com suas bagagens, vivências, qualidades, defeitos foram colocadas no mesmo potinho para se misturarem. O que pode dar errado? Tudo! O que pode dar certo? Tudo! Vale o risco? Vale. O que não vale é a possibilidade de passar essa vida, que passa tão rápido, sem amar. Em um papo, você tinha 15 e eu 20 e de repente, você 24 e eu 29. 

Essa semana tive aqueles pensamentos viajantes: a vida está passando. Vinte e nove anos e a vida não para e a velhice é certa. Será que voltamos ou não? Se voltamos, voltamos sem memória de tudo o que vivemos. No final de toda essa viagem, somente pude concluir: aproveite! E se você tem alguém para amar, você é um privilegiado sim! E eu sou privilegiado por te encontrar e por você ter me encontrado. Quinto dia dos namorados com você! Muito obrigado! E não tenho pretensão alguma de passar esse dia com outra pessoa.

E para esse dia, essa música:

Me beija
Outroeu

Eu quero ver tu me beijar com toda calma
Eu quero te presentear, ô coisa rara
E o amor
Simples pra eu não complicar
Vou te escolher sem ter que ter que escolher nada
Não vou prever, nem tem porque, as nossas falhas
Teu corpo
No meu vai funcionar
Me beija, me beija, me beija
Deixa eu te beijar
E quando for pra olhar pra trás, olhar pro nada
Se é pro luxo, a gente vai normal de calça
E eu vou
Simples pra te namorar
E quando houver dificuldade, usar a escada
Pra quê prever, nem tem porque, as nossas falhas
Teu corpo
No meu vai descansar
Me beija, me beija, me beija
Deixa eu te beijar
Ah, me fez enxergar o meu porque aonde o nosso lugar
Ah, espero você voltar
Eu quero ver o quanto que você vai
Me abraçar
Êi, êi, uh, uh
O amor
Simples pra eu não complicar

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Procrastinação




Conforme o tempo vai passando, os anos avançando e tendo mais situações e experiências para avaliar a gente percebe quão precioso o tempo é. Crescemos ouvindo tantos jargões sobre o tempo: "ele não volta"; "passa rápido"; "aproveite enquanto é tempo". Enfim, tantas expressões diferentes, mas que realçam o valor do tempo.

Quando criança e adolescente a gente não entende muito bem tudo isso. A gente só vive... não há muito o que se avaliar. Pelo contrário, sempre pedimos que passe logo, que chegue uma determinada época com a maior brevidade possível. No final, todos esses anseios são, na verdade, uma fuga para não lidar com o presente. Não queremos ser responsáveis ao ponto de termos tantas conversas difíceis, ter de tomar decisões. E assim vamos visando os 18 anos, depois, sair de casa, viajar... fugas! E nunca paramos para pensar em como seria bom e vantajoso parar, conversar, enfrentar, conflitar, mas no final, evoluir, crescer, resolver, não ter que fugir, correr e poder viver o presente da melhor forma possível. Isso evitaria a saudade profunda que sentimos do passado.

E hoje, continuamos repetindo esses comportamentos. Vivemos fugindo de algo em todos os lugares que frequentamos: trabalho, escola, faculdade e até em nossos espaços com amigos. Sempre dando desculpas, deixando para depois. Por quê? preguiça? medo? Qual seria esse sentimento tão estranho que nos impede e nos faz deixar para depois? No final, reclamamos da bola de neve que se fez, mas ficamos como grandes expectadores vendo-a se formando e tomando proporções muito maiores do que deveriam.

Será que esse é o grande segredo? No final gostamos de reclamar, inverntar desculpas, de se vitimizar... QUANTA COISA PARA FAZER! Será mesmo que temos uma sobrecarga ou queríamos que esse cenário acontecesse para tenhamos dó de nós mesmo? Talvez, se fizéssemos o que precisasse no momento em que cada situação se aprensentasse para nós, não passaríamos tanto estresse e evitaríamos tantos desconfortos.

Não tão fácil quanto escrever, mas necessário como o respirar!

Que deixemos de ser aquelas crianças e adolescentes cheios de medos e incertezas para crescer e tomar as rédeas das nossas vidas.

Paulo Ferle

Ao som de:
Tudo Passa - Marjorie Estiano
Trem-bala - Ana Vilela